segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Rio São Francisco: Minientrevista - Luiz Flávio Cappio - Bispo da Diocese de Barra (BA)




DomfreiLuisFlavioCappio



 

Quais impactos ambientais e sociais o São Francisco sofreu nos últimos anos? São muitos os afluentes que já não existem. Nascentes que antes eram fortes se tornaram temporárias, e outras já morreram. O assoreamento é muito grande. Os poucos peixes encontrados são tão caros que o povo não tem mais acesso ao que, antes, era a alimentação dos ribeirinhos. Não existe fiscalização das outorgas. Apenas 5% das matas ciliares ainda existem; 95% das margens estão desnudas. O povo chora “seu pai, sua mãe” morrer aos poucos.

A população tem esperanças de a água chegar?No início, devido à propaganda enganosa do governo, dizendo que as águas da transposição seriam para o povo do Nordeste Setentrional, havia grande euforia entre a população. À medida que a obra foi sendo levada à frente, com a expulsão de muitos proprietários e ribeirinhos, com a perda das terras vizinhas aos canais, com a morte de muitos animais, com a maneira desrespeitosa de tratar os grupos tradicionais, como indígenas e quilombolas, o povo foi tomando consciência da verdade da transposição. O projeto caiu no descrédito e não mais desperta nenhuma esperança para ninguém. Pelo contrário, uma imensa insatisfação diante de um projeto eleitoreiro, que permite e facilita a corrupção.

O senhor acredita que o projeto dará certo ao ser concluído, ou em algum momento? Não. O rio já não possui a quantidade de água necessária para ser transposto e continuar vivo para os demais usos. Isso implicaria imensas obras adicionais de reservatórios de água. A demanda de energia seria tão grande que colocaria em colapso a distribuição energética do Nordeste. A solução seriam usinas nucleares? Vejam o absurdo!

Após tantos apelos, duas greves de fome, acha que valeu a pena?O grito já foi dado e já foi ouvido. Sinto-me como São João Batista no deserto, pregando para o vazio. Espero e desejo que este grito – que, aliás, não é apenas meu – ecoe em algum lugar, em algum tempo. Só espero que, quando for ouvido, não seja tarde demais.



Fonte: JL/OTempo

 




Rio São Francisco: Minientrevista - Luiz Flávio Cappio - Bispo da Diocese de Barra (BA)

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